Sistemas de criação de ovinos e as suas implicações no bem-estar

Portugal enquadra-se numa latitude de clima temperado, onde se encontra a maioria do efetivo ovino mundial. As estatísticas registam cerca de 2.200.000 ovinos, utilizados sobretudo para produção de carne e de leite, distribuídos de forma equitativa entre o Norte e o Sul do Tejo (INE, 2016). Existe uma grande diversidade genética, destacando-se a existência de 15 raças autóctones (DGAV, 2018), para além de algumas raças importadas e vários tipos de cruzamentos.

O número total de ovinos tem vindo a diminuir ao longo do tempo devido ao abandono das regiões com menor potencial agrário e dos sistemas de produção mais tradicionais. Nos rebanhos de menor dimensão é suposto existir um maior rácio homem/animal, o que implica a valorização de cada animal, o estabelecimento de uma interação homem-animal mais forte e um maneio animal mais individualizado.
Em contrapartida, os rebanhos de maior dimensão tendem a possuir mais infraestruturas, mais recursos tecnológicos e um maneio geral mais profissional e eficiente.

Podemos considerar que Portugal possui, como mais representativos, 3 sistemas de produção de ovinos: produção extensiva (no Alentejo em rebanhos com tamanho médio de 135 cabeças), pastorícia tradicional (no Norte e Centro em rebanhos com tamanho médio de 28 cabeças) e alguma produção intensiva mais associada à aptidão leite.

 

Fatores de risco

A nível de bem-estar animal, os grandes factores de risco associados aos sistemas extensivos e tradicionais são de origem alimentar e sanitária.

  • Em termos alimentares estes sistemas baseiam-se no pastoreio com recurso mínimo a forragens conservadas ou suplementos  oncentrados. A utilização de terrenos marginais ou pobres, aos quais se associam os impactos das irregularidades climáticas e dos incêndios, podem assim condicionar a disponibilidade de pastagens suficientes para satisfazer as necessidades dos animais.
  • Em termos sanitários, nestes sistemas é mais difícil o controlo de algumas parasitações e doenças infecciosas, o que pode aumentar a taxa de mortalidade dos animais mais frágeis, nomeadamente os mais jovens.

Em relação aos sistemas intensivos, mais associados à produção de leite, os maiores riscos de bem-estar animal são o desmame precoce dos cordeiros, a estabulação total ou parcial dos animais, a qualidade das instalações e o aumento de incidência de algumas patologias, sobretudo relacionadas com o úbere.

 

Tendo em conta o reduzido número de empresas de criação de ovinos em sistema intensivo e tendo estas, geralmente, um maneio mais profissional e o facto da maioria dos detentores em sistema extensivo ou de pastoreio tradicional utilizarem raças autóctones e estarem associados a produtos certificados (DOP e IGP), o que os sensibiliza para as boas práticas de maneio alimentar e sanitário, podemos considerar que, em Portugal, a maioria dos animais desta espécie está a ser criada em condições de bem-estar consideradas como razoáveis ou boas.